Mãe, filha, companheiras de equipe: a ‘alegria inexplicável’ de competir juntas pelo Brasil
A especialista brasileira Caroline Pires Militao e a lateral direita Cinthya Piquet não apenas jogam pelo mesmo time, o Brasil, mas também compartilham o mesmo DNA.
Com apenas 22 anos, Caroline é filha de Cinthya, uma atleta brasileira lendária com múltiplos títulos mundiais. Juntas, elas estão se esforçando por uma posição no pódio no Campeonato Mundial de Handebol de Praia Feminino da IHF 2024, em Pingtan.
O IHF.info conversou com a dupla logo após a vitória crucial no shoot-out contra a Noruega.
IHF.info: Vocês se uniram para garantir a vitória contra a Noruega. Como é marcar esses gols para ela?
Cinthya: Essa é a minha especialidade. É uma experiência única e incrivelmente gratificante. Nunca imaginei que teria a chance de compartilhar tudo isso com minha filha. A emoção é indescritível e, às vezes, difícil de colocar em palavras. Não é apenas de mãe para filha, mas de filha para mãe—um sentimento inexplicável.
IHF.info: Qual é a sua primeira lembrança da sua mãe jogando Handebol de Praia?
Cinthya: Ela está na seleção nacional há 20 anos, e eu a segui a vida toda. Eu acordava cedo na infância para assistir a sua partida na Hungria (2016) pela TV. Agora, estou vivendo essa experiência com ela. É um sentimento que não consigo descrever e é verdadeiramente único para mim.
IHF.info: Cinthya, muitos pais querem que seus filhos sigam seus próprios caminhos. Quando Caroline expressou interesse pelo Handebol de Praia, você a apoiou totalmente?
Cinthya: Ela começou jogando futebol, mas depois decidiu se dedicar ao handebol. Muitas pessoas achavam que ela foi influenciada por mim, mas isso não era verdade. Eu disse a ela: “Você precisa escolher o que ama—eu apoio qualquer escolha que fizer.” Ela jogou indoor primeiro, depois passou para o Handebol de Praia, e eu a incentivei a encontrar sua felicidade.
O que realmente importava para mim era que ela estivesse envolvida em esportes, qualquer um, porque foi assim que eu cresci. Então, quando ela escolheu aquele que eu amo, tornou-se muito especial para nós jogarmos juntas na seleção nacional.
IHF.info: Caroline, como você se sentiu quando recebeu sua primeira convocação para a seleção e como foi jogar juntas pelo Brasil?
Caroline: Meu primeiro torneio foi no ano passado, no IHF Beach Handball Global Tour, no Brasil. Foi uma sensação incrível; até fiz uma tatuagem do logo. Foi meu primeiro campeonato como adulta representando nosso país ao lado dela. Foi um sonho realizado juntas que significou muito para mim.
IHF.info: Cinthya, como você se sentiu quando Caroline se tornou jogadora do Brasil?
Cinthya: Costumo brincar que nunca pensei que viveria esse sonho, porque era algo difícil de alcançar. Eu sabia que ela estava em um nível para jogar em qualquer time brasileiro, mas entrar na seleção era um desafio. Eu costumava desejar estar em um estado constante de sonho, onde nós jogássemos juntas, e agora isso se tornou realidade. Eu apenas tive que me concentrar para garantir que a dinâmica mãe-filha não interferisse em nosso desempenho. Funcionou.
Caroline: Foi no ano passado, no Global Tour, em Maricá. Foi muito especial ter a torcida em casa torcendo por nós, sentindo essa vibração brasileira—foi uma experiência muito gratificante.
IHF.info: No time, vocês são companheiras de equipe em primeiro lugar e mãe e filha em segundo, ou o contrário?
Caroline: Somos companheiras de equipe em primeiro lugar. Quando preciso do apoio dela, é aí que eu me aproximo como filha, e ela está lá por mim.
Cinthya: E quando eu preciso dar uma bronca, eu dou (risos).
IHF.info: Mas quando vocês vencem, não dão bronca uma na outra, certo?
Cinthya: Não. Mas nós trocamos feedbacks, tipo “você poderia melhorar assim.” Nós nos apoiamos muito.
Caroline: Mamãe me ajuda, e eu ajudo ela. Estamos sempre lá uma pela outra.
IHF.info: Cinthya, quais são as esperanças para sua filha com essa seleção nacional no futuro?
Cinthya: Eu acredito que ela terá muitos anos pela frente. Ela vai estar na apresentação de Paris 2024 e eu estarei lá para assisti-la. Acho que ela só precisa se manter firme em seu propósito e treinar, treinar, treinar, porque vejo um futuro longo para ela na seleção.
Se Deus quiser, a presença dela na equipe será como a da mãe, porque estou na seleção desde 2005.
IHF.info: Caroline, sua mãe é uma lenda do Handebol de Praia, ganhando múltiplos títulos ao longo de sua carreira. Quando você a olha, o que vê? Vê a mãe ou vê uma lenda do Handebol de Praia?
Caroline: Eu digo a todos que sou sua fã número um. E isso se intensifica pela dedicação dela ao esporte ao qual se dedicou a vida toda. Sempre admirei a disciplina que ela mostrou todos esses anos. Eu admiro a atleta que ela é, além de ser uma mãe maravilhosa.
IHF.info: Que tipo de conselho você daria a outras atletas na sua situação, como mãe e filha no mesmo time?
Caroline: Até agora, nunca vimos isso acontecer. Algumas pessoas comentam em nossas postagens na internet, mas é muito raro. Bom ou ruim, eu me tornei mãe muito cedo, e isso foi bom, porque estou aqui com ela, e também tem o lado ruim, porque tudo na vida tem um lado bom e um lado ruim. Mas acho que será muito difícil que isso aconteça novamente.
Cinthya: Ela gosta porque todo mundo acha que ela é minha irmã (risos).